quarta-feira, 2 de setembro de 2015

PRÊMIO PETECA 2015 - SEMIFINALISTA - POESIA DE CORDEL - SOBRAL

                                      João e o Fim da Exploração

Fazenda Esperança
Era o nome da cancela
Onde morou uma criança
Abandonado por Marcela

Ele se chamava João
E  gostava de brincar
Mas sofria exploração
Trabalhava sem parar
Não ganhava um tostão
Nem podia estudar

Essa era sua sina:
Acordar cedo, ir pra roça,
Dar água aos bichos, encher a tina
Levar  capim  na carroça
Muito cedo da matina

Dos  brinquedos que brincava
Nenhum era moderno:
Uma enxada, um facão
Um toco de lápis e um caderno

Seus grandes  companheiros
No caminho da solidão
O caderno ele achara
Pertinho de um lixão
Dai, pensou alto:
Eu vou ter Educação!

Menino muito pequeno
Tinha dez anos de idade
Mas queria estudar
Mudar sua realidade

Vontade não faltava
Mas o  trabalho impedia
E no caminho da roça
Sonhava todo dia
Nunca mais guiar carroça
Sair dessa agonia

Como toda criança
João era esperto
Não perdeu a esperança
E falou com seu Noberto
Que queria estudar
Numa escola ali perto

Seu Noberto, o patrão
Dono da fazenda
E do arado
Sequer ouviu João
Seu negócio era renda
Com a cabeça de gado

O garoto entristeceu
Ficou muito chateado
Mas não amoleceu
O recado tava dado:
Ele iria estudar
E ser grande advogado

Depois de algum tempo
E muita aguniação
Falou com Soledade
Mulher do patrão
Que queria ir à escola
E ter boa educação

Soledade, generosa
Esposa muito bondosa
Ouviu o caso de perto
Alegrou-se e logo disse:
- Menino cê é esperto!

Era muito sofrimento
Pra um só João
Muita  dor e lamento
Pra ser um cidadão
Mas esse julgamento
Não estava em sua mão

Um dia, Noberto deitado
Soledade catando feijão
Falou para o marido
Do sonho de menino João
O homem virou de lado
Deu-lhe nenhuma atenção

Ela deu um grande salto
Levantou-se e falou alto:
- Homi cê abestado
Esse menino João
Vai ser nosso adêvogado
E o futuro da Nação.

Naquele momento
Já estava decidido:
Nem dor, nem tormento
De João, o sofrido
E logo sem demora
Não tinha outra saida
Era ordem da senhora
Se não fosse comprida
Noberto quem ia embora

O homi logo acatou
Ela mesma se encarregou
De contar a novidade
Um jantar preparou
Chamou a comunidade
O menino se assustou
Tamanha  felicidade!

O tempo foi passando
Noberto faleceu
Soledade, velha ficando
João logo cresceu

O garoto estudou
Advogado se formou
No dia do juramento
Como  agradecimento
Jurou  a Soledade
Ajudar na comunidade

E assim tem feito
Como muita dedicação:
Trabalhando numa ONG
Que combate a exploração
Tirando menino da rua
E dando educação!

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