domingo, 4 de outubro de 2015

PRÊMIO MPT NA ESCOLA - CONTO DE SÃO PAULO (15º REGIÃO)

Escrever uma nova história*


Natália Cristina Piamonte José

Morar com a tia Lorita não era fácil.  Depois da morte dos meus pais, não tive alternativa. A vida me jogara mundo a fora e somente ela poderia cuida de mim; assim era o que dizia o jiz, determinando a minha saída do abrigo.
Da janela do último andar, vi um grande carro chegando, e de óculos escuros, lá estava minha tia. A assistente social bateu na porta do quarto, me chamando para pegar minhas coisas.
Depois de uma longa viagem ao interior de São Paulo, chegamos a Santo Antonio da Alegria, um lugar pequeno, porém muito acolhedor. A casa da minha tinha era uma das mais bonitas daquele lugar, tinha uma piscina, em frente havia uma praça e com um campo de futebol ali perto. Então pensei que seria a criança mais feliz do mundo, afinal tudo o que eu queria estava a poucos metros de mim. Ah, e a escola era bem diferente da minha, tinha até uma horta e um cachorro que as crianças adoravam cuidar.
Os dias foram passando e minha tia não me deixava sair do quarto, nem para brincar e acredite, nunca fui à escola. Apenas via as crianças indo e vindo de lá. Os meninos felizes no campinho do futebol.
A única coisa que ouvia todos os dias era: “Vai limpar a casa!” “Olha esses móveis, estão sujos!” “Não lavou a louça ainda?” “Sai dessa janela!”. E quando eu não fazia direito, sempre ficava de castigo no porão, no qual eu era proibido de mexer no baú. Minha tia sempre dizia para ficar longe dele, mas certo dia, com minha curiosidade, resolvi abrir e ver o que havia dentro.
Acabei por encontrar o diário dela dentro daquele baú. Comecei a ler e todos os relatos da minha tia eram referentes ao trabalho dela quando criança. Minha avó a explorava. Agora entendo o motivo de me tratar assim.
Decidi falar com tia Lolita e explicar que ela pode construir uma nova história e me deixar ser criança, pois tenho meus direitos.
A nossa conversa foi produtiva, apesar de muitas lágrimas. Tia Lolita me pediu desculpas e prometeu que a partir daquele momento tudo seria diferente.
Hoje vou à escola todos os dias e não faço mais todos os serviços domésticos. Minha tia me ajuda em tudo que preciso. Posso dizer que sou uma criança feliz.


Conto vencedor da etapa estadual do Prêmio MPT na Escola, no interior de São Paulo (área de abrangência da PRT da 15ª Região. Escrito por Natália Cristina Piamonte, sob a orientação da professora Karina Piore Ferrão, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Coronel Joaquim da Cunha, do Município de Altinópolis-SP.

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